Preocupações para a Sociedade do III Milênio

Compilado por
Anatoli Olinyk - M.'. I.'.

A preocupação com o futuro acompanha o ser humano desde os tempos mais remotos da nossa antigüidade.

Em relação a este momento podemos discernir quatro preocupações fundamentais que afligem os homens mais esclarecidos.

A primeira diz respeito ao Equilíbrio da Biosfera.

A sociedade industrial foi incrementando sua capacidade de interferência na natureza e, a partir de um certo momento, o impacto do Homem sobre o meio ambiente tornou-se mais rápido e mais profundo que a capacidade de recomposição do equilíbrio natural.

As florestas renascem por conta própria, as águas se clareiam por conta própria etc., mas tudo depende da velocidade e da intensidade da agressão sobre a Natureza, e o mundo contemporâneo exerce uma agressão sobre a Natureza absolutamente superior à capacidade de recomposição espontânea do equilíbrio da biosfera.

Portanto, há absoluto consenso dos analistas a respeito da relação entre a sociedade industrial e a ecologia no sentido de que, se determinadas medidas extremamente importantes não forem adotadas a relativamente curto prazo, o desequilíbrio da biosfera provocará degradações de suprema gravidade, afetando significativamente e, talvez, até decisivamente a habitabilidade do planeta.

A propósito, a revista "Divulgação" edição número 128, fevereiro 2001, traz um artigo a respeito do aquecimento global do planeta e suas conseqüências. Vale a pena conferir.

A segunda preocupação diz respeito ao processo de Globalização Econômica do mundo. A característica atual do mundo é a emergência de um mercado mundial com uma atuação econômica planetária.

Ao mesmo tempo que isso ocorre, não existe, entretanto, uma atuação correlata do ponto de vista da institucionalização e da normalização desse processo.

Uma analogia histórica ajudará a compreender o problema da globalização. A partir do século XIV a Europa Medieval começou a encontrar conexões feitas por uma nova classe emergente, entre a capacidade produtiva de cada aldeia e de cada pequeno setor com um mercado mais extenso, os países europeus foram compelidos a submeter esse mercado mais amplo a uma norma regulatória adequada, o que levou a se converter a estrutura medieval feudal na dos Estados nacionais. Várias outras circunstâncias contribuíram para o aparecimento do Estado nacional, mas certamente uma delas foi a necessidade de um ajuste entre a "transaldeação" da economia e a formação de uma estrutura institucional regulatória que correspondesse às dimensões desse mercado. Presentemente, estamos saindo de uma espécie de neofeudalismo, que seria o feudalismo dos Estados-nação, para uma economia mundializada, mas não logramos ainda um sistema de regulação internacional adequado a essa economia.

Estamos ainda nos passos iniciais de regulação dos blocos econômicos, tais como o Nafta, Mercosul etc. Se não o lograrmos, haverá certamente uma ruptura entre a globalização, de um lado, como processo factual, e as crises decorrentes da inadequada institucionalização do processo, por outro.

A globalização econômica e tecnológica tem como correlato uma terceira ruptura, cuja visibilidade é mais imediata do que as já mencionadas. É o Desequilíbrio Norte-Sul.

Não escapa mais a ninguém que a relação Norte-Sul atingiu um grau de desequilíbrio absolutamente intolerável e que, independentemente de considerações éticas, esse desequilíbrio está gerando efeitos perniciosos para o conjunto da sociedade humana, que são o desequilíbrio econômico, o desemprego em massa, as migrações incontroláveis, o terrorismo e a emergência de novas formas de fanatismo religioso-político como se observa no fundamentalismo islâmico e em alguns outros fundamentalismos.

É bastante claro, portanto, que, se não se logra, dentro de um prazo razoável, uma relação mais equilibrada entre o Norte e o Sul - o que também corresponde a uma relação mais institucionalizada entre a globalização da economia e as normas regulatórias da economia mundial -, vamos ter uma ruptura muito grave.

Finalmente, talvez a mais grave de todas, é a perspectiva de uma ruptura no que se refere ao Universo de Valores. Estamos desenvolvendo uma civilização planetária, marcada pelo descrédito das religiões tradicionais, ainda que em parte substituídas por religiões de caráter semimágico, mas que são religiões que dizem respeito à emoção, não à razão e que, portanto, não geram um correlato adequado entre a postura religiosa e a postura ética.

Ocorre, assim, uma erosão dos valores éticos tradicionais, com a emergência de condutas crescentemente determinadas pelo consumismo e pela vontade de maximizar as oportunidades que este oferece.

Este consumismo, entretanto, dá uma clara indicação de não ser suficiente para sustentar um modelo civilizado de vida no mundo.

Torna-se assim, absolutamente clara a necessidade da restauração de valores transcendentes, não necessariamente de uma restauração religiosa, mas sim a emergência de um sistema ético dotado de suficiente universalidade e internalidade, em relação aos agentes atuantes no mundo, para imprimir uma correlação mínima entre as condutas e valores transcendentes. Está em jogo, portanto, o risco de uma ruptura muito severa que conduziria o mundo ou à implantação de um novo Humanismo Social ou a um Neobarbarismo Tecnológico.

Indubitavelmente, a curto prazo, as tendências para o neobarbarismo tecnológico são claramente predominantes.

Portanto, caros leitores, as questões que afligem a humanidade não se esgotam nestas quatro, as quais, sem dúvida alguma são da mais alta importância para todos.

A Sociedade deve e pode ser a guardiã do mundo e os Cidadãos que a constituem, precisam criar a consciência de que, individualmente, são cidadãos do mundo e como tal têm responsabilidades e deveres a cumprir.